RESUMO
A ênfase na ética dentro da profissão de auditoria tem-se intensificado devido ao impacto profundo dos escândalos financeiros que lançaram dúvidas sobre a integridade e os padrões éticos dos auditores. Estes escândalos comprometeram a credibilidade dos auditores, levantando preocupações entre os utilizadores dos serviços de auditoria. A Federação Internacional de Contabilistas (IFAC) supervisiona a ética global de auditoria, priorizando o interesse público através do seu Código de Ética. Este código obriga os auditores a manterem princípios de integridade, objetividade, competência profissional, confidencialidade e comportamento profissional.
Em Moçambique, a Ordem dos Contabilistas e Auditores de Moçambique (OCAM) assegura a independência dos auditores, alinhando-se com os padrões internacionais para manter a qualidade da auditoria. As medidas para garantir a independência incluem educação, governança robusta, controlos internos e mecanismos de aplicação.
INTRODUÇÃO
O impacto da ética na auditoria e na confiança dos utilizadores da informação financeira é uma área crítica de estudo no campo da contabilidade e finanças. Num mercado global cada vez mais complexo, a fiabilidade e a integridade das demonstrações financeiras são essenciais para a tomada de decisões por investidores, credores e outros stakeholders. A ética de auditoria, que abrange princípios como independência, objetividade e ceticismo profissional, serve de base para práticas de auditoria fiáveis.
Quando os auditores aderem a elevados padrões éticos, aumentam a credibilidade da informação financeira apresentada, fomentando uma maior confiança entre os seus utilizadores. Pelo contrário, lapsos éticos na auditoria podem levar a desinformação, escândalos financeiros e uma subsequente erosão da confiança na reportagem financeira.
O IMPACTO DA ÉTICA NA AUDITORIA E NA CONFIANÇA DOS UTILIZADORES DA INFORMAÇÃO FINANCEIRA
O crescente enfoque na ética dentro da profissão de auditoria deve-se às profundas repercussões dos escândalos financeiros proeminentes que lançaram uma sombra sobre os auditores. Estes escândalos geraram dúvidas sobre a integridade e os padrões éticos dos auditores entre os utilizadores dos serviços de auditoria.
Ademais, surgiram preocupações sobre a credibilidade dos auditores no mercado, uma vez que a sua conduta ética pareceu comprometida. Pressões como prazos apertados podem levar a práticas antiéticas, que têm manchado a reputação da profissão. Segundo Ardelean (2013), a integridade exige que os auditores sejam verdadeiros e honestos nas suas atividades de auditoria, enquanto a objetividade demanda a ausência de quaisquer conflitos de interesse que possam comprometer o seu julgamento. A competência profissional implica educação contínua e desenvolvimento de habilidades, enquanto o devido cuidado exige conformidade com os padrões de auditoria.
De acordo com Johari et al. (2021), as decisões éticas tomadas pelos auditores podem ser grandemente influenciadas pela cultura ética nas suas firmas de auditoria. Geralmente rotuladas como comportamentos de redução da qualidade da auditoria ou comportamentos ameaçadores da qualidade da auditoria, estas incluem uma ampla gama de atividades, como assinaturas prematuras, dependência excessiva do trabalho do cliente e viés na seleção de amostras. Os auditores podem recorrer a estas práticas para lidar com o que percebem como restrições e tempo excessivamente apertado (Herda et al. 2018). O público deseja verdade e justiça na apresentação de relatórios financeiros corporativos, o que pode ser alcançado através de um jogo limpo e de uma apresentação honesta (Ozili & Outa 2019).
Algumas práticas antiéticas por uma minoria de auditores mancharam a reputação da profissão de auditoria, criando uma imagem negativa que exigirá tempo e esforço significativos para ser redimida pelos auditores éticos. Manter um comportamento profissional exige que os auditores evitem ações que possam prejudicar a reputação da profissão e que cumpram as leis e regulamentos relevantes.
A IFAC (Federação Internacional de Contabilistas) atua como o órgão regulador global responsável por supervisionar a ética da profissão de auditoria, com um foco principal na proteção do interesse público. Para cumprir esta missão, o Código de Ética da IFAC enfatiza que os auditores têm o dever de agir no melhor interesse do público. Enquanto um código formal de ética serve como um guia autoritário para manter a integridade e objetividade das opiniões de auditoria, fatores informais, como a cultura organizacional e os valores individuais, também desempenham um papel significativo na influência das decisões de auditoria.
A independência dos auditores em Moçambique, conforme delineado pela Ordem dos Contabilistas e Auditores de Moçambique (OCAM), é um aspeto crucial para assegurar a integridade e qualidade das auditorias realizadas no país. A independência do auditor é fundamental para garantir que possam desempenhar as suas funções de forma imparcial, objetiva e livre de influências externas que possam comprometer a integridade dos resultados.
Para garantir a conformidade com os padrões de independência pelos auditores em Moçambique, várias medidas podem ser tomadas:
Educação e Sensibilização: É essencial fornecer formação adequada aos auditores sobre a importância da independência, as implicações éticas e legais da falta de independência e as consequências do não cumprimento dos padrões.
Reforço das Estruturas de Governança: É importante fortalecer as estruturas de governança das empresas e organizações, garantindo uma supervisão adequada e a separação de poderes para evitar influências externas que possam comprometer a independência dos auditores.
Implementação de Controles Internos: As empresas devem implementar controles internos robustos para garantir que não haja conflitos de interesse ou pressões externas que possam influenciar os auditores no seu trabalho.
Supervisão e Aplicação de Sanções: A OCAM deve ter mecanismos eficazes de supervisão e sanção para garantir a conformidade com os padrões de independência. Isso pode incluir auditorias regulares, revisões de conformidade e medidas disciplinares em caso de violações.
Promoção de uma Cultura de Ética e Integridade: É importante promover uma cultura organizacional que valorize a ética e a integridade, onde os auditores se sintam encorajados e apoiados a agir de forma independente e ética em todas as situações.
A natureza do trabalho realizado por contabilistas e auditores exige um elevado nível de ética. Os acionistas, potenciais acionistas e outros utilizadores das demonstrações financeiras dependem fortemente destes relatórios anuais para tomar decisões de investimento informadas. Eles dependem dos contabilistas que preparam as demonstrações e dos auditores que as verificam para apresentar uma visão precisa e justa da empresa. O conhecimento da ética pode ajudar contabilistas e auditores a navegar em dilemas éticos, permitindo-lhes tomar decisões que, embora possam não beneficiar a empresa, beneficiarão o público que confia no relatório do auditor.
CONCLUSÃO
A importância da ética dos auditores não pode ser subestimada, uma vez que o seu papel na manutenção da confiança pública na informação financeira é primordial. O comportamento ético entre os auditores é crucial para garantir a integridade e fiabilidade dos relatórios financeiros, que são fundamentais para os processos de tomada de decisão de acionistas, credores, funcionários, fornecedores e o público em geral.
A Federação Internacional de Contabilistas (IFAC) desempenha um papel crucial na promoção da conduta ética entre os auditores através do seu Código de Ética, e a OCAM alinha-se com os padrões internacionais de auditoria. Este código delineia princípios essenciais como integridade, objetividade, competência profissional, devido cuidado, confidencialidade e comportamento profissional. Aderir a estes princípios é vital para os auditores manterem a confiança pública e preservarem a reputação da profissão de auditoria.
Além disso, o comportamento ético na auditoria vai além da conformidade com códigos formais de ética. Envolve fomentar uma cultura organizacional que priorize a ética e a integridade. Esta dimensão cultural é crítica, uma vez que as decisões éticas dos auditores podem ser significativamente influenciadas pelo clima ético das suas firmas. Dilemas éticos, como assinaturas prematuras ou seleções de amostras tendenciosas, frequentemente surgem de pressões como prazos apertados. Abordar estas pressões e promover uma cultura de conduta ética é essencial para prevenir comportamentos de redução da qualidade da auditoria.
Em conclusão, a ética dos auditores é fundamental para a credibilidade da informação financeira e, por extensão, para a confiança dos utilizadores dessa informação. Manter elevados padrões éticos, fomentar uma cultura de integridade e assegurar a independência dos auditores são passos essenciais para construir e manter a confiança pública. À medida que a profissão de auditoria continua a evoluir, um compromisso firme com a ética permanecerá integral ao seu sucesso e à estabilidade do sistema financeiro mais amplo.
REFERÊNCIAS
Ardelean, A. (2013). Auditors’ Ethics and their Impact on Public Trust. Procedia - Social and Behavioral Sciences, 92, 55–60. https://doi.org/10.1016/j.sbspro.2013.08.637
Herda, D., Cannon, N., & Young, R. F. (2018). Workplace Mindfulness and its Effect on Staff Auditors’ Audit Quality-Threatening Behaviour. Research Gate.
Johari, R., Alam, Md. M., & Said, J. (2021). Investigating factors that influence Malaysian auditors’ ethical sensitivity. International Journal of Ethics and Systems, Ahead-of-Print(Ahead-of-Print).
Ozili, P. K., & Outa, E. R. (2019). Bank earnings smoothing during mandatory IFRS adoption in Nigeria. African Journal of Economic and Management Studies, 10(1), 32–47. https://doi.org/10.1108/AJEMS-10-2017-0266