Foi uma surpresa ver instruções em mandarim no aeroporto de Manaus, onde você dificilmente encontra turistas chineses. De fato, o capital chinês é proprietário de quase um quarto do capital da Companhia Aérea Azul. A China é agora um dos maiores credores da região da América Latina e do Caribe (ALC). Nos últimos anos, os bancos chineses fizeram mais empréstimos à ALC do que o Banco Mundial ou o Banco Interamericano de Desenvolvimento.

Fonte: Banco de dados Financeiros China – América Latina


O Banco de Desenvolvimento da China (BDC) e o Banco de Exportação e Importação da China (Ex-Im Bank) forneceram dinheiro para diversos projetos. Estes dois bancos são os principais bancos a criarem novas políticas na China, de propriedade exclusiva do governo chinês. O setor de energia ainda se mostra o principal objetivo dos financiamentos. Sem dúvida, o Brasil tem atraído uma proporção significativa do investimento chinês por sua riqueza em recursos naturais. Durante o ano de 2016, mais de 15 bilhões de dólares americanos voaram de bancos estatais da China para entidades brasileiras.

 

A Garantia de Oferta Global para a China

O envolvimento financeiro chinês na região da América Latina e Caribe é mais do que diplomático. Também serve para propósitos econômicos fortes. O rápido crescimento da economia chinesa exige mais energia e minerais do exterior, uma vez que a oferta interna é bastante limitada. Assim, assegurar a oferta global é um dos principais alvos do investimento chinês.

O ambiente de investimento é mais favorável na América Latina, em comparação com o Oriente Médio ou a África. A Venezuela, Equador e Brasil são grandes exportadores de petróleo no mundo. É natural para a China visar construir  um relacionamento estratégico de longo prazo com as nações da América Latina e do Caribe. De fato, o governo chinês é muito generoso em relação às necessidades de financiamento das indústrias extrativas na ALC. Por exemplo, no mais recente acordo com o Brasil, o Banco de Desenvolvimento da China forneceu US $ 5 bilhões à Petroleira Brasileira (Petrobras). Em troca, a Petrobras prometeu vender 100 mil barris por dia nos próximos dez anos para três empresas chinesas de petróleo.

Principais políticas de Financiamento recentes entre China e Brasil

Date

Amount

Purpose

Debtor

Creditor

Dec. 2016

5 Billion USD

Debt Financing

PetroBras

CDB

Feb. 2016

10 Billion USD

Debt Financing

PetroBras

CDB

May 2015

1.3 Billion USD

Loans for Aircraft Sales to China

Embraer

Ex-Im Bank

May 2015

3.2 Billion USD

Loans for Ship Purchases from China

Vale

Ex-Im Bank

May 2015

1.5 Billion USD

Loans for Equipment Purchases from China

PetroBras

CDB

April 2015

1.2 Billion USD

Loans for Soy-processing industrial line construction

Government

CDB

 

Digerindo o Excesso de Capacidade da China

Além do setor de energia, a área de infraestrutura é o segundo maior destino para o investimento chinês. Projetos no exterior não só criam oportunidades para as empresas domésticas expandirem seus negócios globais, mas também ajudam a digerir o excesso doméstico de capacidade industrial chinês. O investimento em projetos de infraestrutura no exterior impulsionou as demandas externas de produtos industriais chineses, reduzindo a pressão doméstica para cortar o excesso de capacidade industrial. Por exemplo, muitos projetos de construção na América Latina envolvem a compra de bens de fabricação chineses.

A economia Chinesa é geralmente caracterizada por um elevado investimento, exportações elevadas e consumo moderado. À medida que o crescimento do setor imobiliário e a demanda internacional diminuem, o excesso de capacidade na indústria transformadora tradicional parece tornar-se um ponto de pressão. Indústrias como aço e alumínio não podem ajustar sua capacidade facilmente. O mais importante é que essas empresas, em sua maioria, são estatais e empregam uma grande força de trabalho. Despedir esses trabalhadores sindicalizados é mais fácil na teoria do que na prática. 

Oportunidades para o Brasil

A infraestrutura no Brasil significativamente atrasa sua situação econômica, que se tornou um gargalo de desenvolvimento. É uma oportunidade histórica para o Brasil recuperar sua infraestrutura em ruínas. Qualquer atualização no transporte ajudará a reduzir os custos de exportação e melhorar a competitividade do Brasil no mercado global.

Além das dificuldades financeiras trazidas pela atual recessão, o programa de austeridade imposto pelo governo limita estritamente os gastos com infraestrutura. O novo capital chinês aparece como uma excelente alternativa. Por exemplo, a Chinesa State Grid adquiriu mais de 50% da energia elétrica brasileira com a CPFL Energia em 4,5 milhões de dólares. A empresa agora é capaz de construir mais linhas de transmissão de energia e ampliar seus serviços no Brasil. Isso irá melhorar a eficiência econômica como um todo no país.

O Controle de Capital e os Desafios da China

No entanto, potenciais conflitos podem surgir no futuro. Os dois países têm práticas de negócios diferentes em áreas como proteção ambiental, normas trabalhistas, direitos indígenas. Se estas questões não forem tratadas adequadamente, eles irão dificultar a conclusão dos projetos. Além disso, ambas as partes têm de procurar formas inovadoras de acelerar os seus processos burocráticos. Os investidores internacionais duvidam da estabilidade política no Brasil.

Outra preocupação recente seria sobre os controles de capital bem apertado na China. O aumento da taxa de juros pelo Federal Reserve tornou mais favorável para trazer dinheiro de volta aos Estados Unidos. O capital estrangeiro acelerou seu processo de mudança. Além disso, algumas empresas e famílias chinesas tentam transferir seus ativos para o exterior, buscando retornos mais altos. Todos estes fatores pressionam a queda da divisa o RMB. Conforme mostrado no gráfico, RMB depreciado no último trimestre de 2016.

Fonte: Banco Popular da China e Banco da China


Em resposta, as autoridades chinesas apertaram o controle de capital, e gastaram suas reservas cambiais para estabilizar a taxa de câmbio. Há uma orientação nova da janela de regras aos bancos comerciais. Várias empresas internacionais encontraram dificuldades para efetuarem suas remessas internacionais desde então. A queda na posição das reservas oficiais simbolizam as intervenções no mercado cambial. A política parece ser eficaz como os dados sugerem. A posição das reservas cresceu ligeiramente mais alto no primeiro trimestre de 2017 e o RMB parou de se depreciar.

Essas medidas têm impactos não triviais para o capital chinês que vem ao Brasil. Os bancos que fazem as políticas podem ser mais seletivos no processo de aprovação de empréstimos. O investimento tradicional no setor de energia ou infraestrutura brasileira, provavelmente não será afetado, uma vez que está de acordo com o interesse estratégico de longo prazo da China. Para outras empresas que desejam expandir seus negócios no Brasil, o canal financeiro provavelmente será mais limitado. Se o potencial econômico da China melhorar, podemos esperar menos controle e um crescimento mais estável do investimento Chinês no Brasil futuramente.

Sobre o autor: Niu Yuanhao é  Economista Chinês, bacharel em Finanças pela BLCU (Beijing Language and Culture University), com mestrado em Políticas Econômicas com foco em Desenvolvimento Econômico pela Universidade de Illinois nos EUA, e atualmente é um doutorando em Economia pela Universidade de Notre Dame nos EUA. Niu teve a oportunidade de estudar um semestre de Economia no Brasil na Universidade de São Paulo (Faculdade de Economia e Administração FEA) em 2016.
 

Para mais informações, entre em contato:

Janaína Guimarães - [email protected]
Executive China Desk - LATAM